Festas de final de ano são sinônimo de família reunida e casa cheia. Entretanto, em 2020, assim como praticamente todas as datas comemorativas, o Natal e o Ano Novo também terão de ser adaptados: a recomendação ainda é manter o isolamento social e evitar aglomerações.
Apesar de já estarmos há mais de nove meses nessa situação, a situação do afastamento de quem se gosta ainda é difícil para muitas pessoas. A pandemia trouxe à tona, através de diferentes formas, o questionamento: até onde vai a liberdade individual sem infringir ou colocar em risco o coletivo?
“Passamos estes muitos meses nos questionando sobre condutas que promovessem o tão desejado equilíbrio, e grande parte das vezes não houve diálogo, mas sim uma cabo de guerra de verdades absolutas que impediam qualquer possibilidade de flexibilização que viabilizasse o compartilhamento de ideias, e um equilíbrio entre a individualidade e a coletividade”, afirma a psicóloga Fernanda Vaz Hartmann.
Com a proximidade das festas de final de ano, o tema reacende com força a fim de identificar como será possível a convivência entre familiares sem prejudicar ou colocar em risco a saúde de cada um, e, principalmente, dos idosos? Será que existe um caminho possível?
Para Fernanda, a primeira questão a ser pontuada é que, apesar de existirem regras estabelecidas por protocolos de saúde, que orientam o nosso comportamento, cada um deve promover uma reflexão sobre as particularidades de seus entes, como idade e situação da saúde, por exemplo. “Deve-se pensar no que lhe faria tomar uma decisão para além do simples desejo de estar com o outro, ou seja, uma decisão que se sustentaria mais no princípio da realidade e não apenas no princípio do prazer”, explica.
A presença nem sempre é física
Outro aspecto importante é tentarmos compreender o conceito de “presença”. Estar presente na vida de alguém seria apenas estar na mesma hora e lugar, um com o outro? “Acredito que este conceito tem um significado muito mais amplo, é sustentado pela intensidade dos vínculos afetivos, pelo grau de compromisso, compartilhamento e sentimento de presença”, destaca Fernanda.
Desta forma, ainda que haja distância física entre os familiares, isto não representa distanciamento emocional. “Embora todos nós gostemos de abraçar, beijar, brincar, conversar e dar boas risadas juntos, não deixaremos de lembrar daqueles que sempre ocuparam um espaço emocional importante nas nossas vidas por não poder estar juntos nas festas de final de ano”, complementa.
Criatividade pode ser aliada
Apesar de compreender que a relação afetiva entre pessoas queridas de uma mesma família vai muito além de estarem juntos nas festas de final de ano, muitas vezes é válido exercitar a criatividade para se mostrar presente emocionalmente para aquele que você não puder estar presente fisicamente. “Quem sabe buscar inspiração nos formatos mais tradicionais de comunicar carinho: enviar flores, mandar uma carta ou poesia, fazer um álbum com recordações de lembranças compartilhadas”, indica Fernanda
É uma oportunidade de nos desafiarmos a pensar sobre o significado de nossos afetos mais valiosos e buscar encontrar formas simbólicas de nos comunicarmos ao outro a importância que ele tem na nossa vida. “Talvez a pandemia tenha criado pela restrição uma grande oportunidade de sermos mais criativos, espontâneos, simples e sinceros; tenho certeza que aquele que decidir investir em surpreender o outro com um presente de muito significado afetivo, não será tomado pelo sentimento de solidão nas festas de final de ano, ainda que esteja fisicamente só”, finaliza.