O regime comunista da China ordenou aos cidadãos que espionassem os vizinhos cristãos e relatassem quaisquer “atividades religiosas ilegais”, incluindo pregação e reuniões em templos religiosos.
A medida, implantada inicialmente na região nordeste do país, oferece recompensas de US$ 150 para cada denúncia, o que equivale a R$ 807 na cotação desta segunda-feira, 23 de agosto.
A administração do distrito de Meilisi Daur, na cidade de Qiqihar, província de Heilongjiang, divulgou um documento intitulado “Sistema de recompensa para denúncias de crimes de atividades religiosas ilegais”, dizendo que os informantes receberiam até 1.000 yuans, informou o portal China Christian Daily.
De acordo com o relato, as autoridades aceitam qualquer informação – por telefone, e-mail ou carta – sobre pessoal religioso não qualificado, atividades transregionais não autorizadas, pregação e distribuição de literatura religiosa impressa, produtos audiovisuais fora dos locais de culto, doações não autorizadas ou reuniões privadas em casa.
Vizinhos dedo-duro
O objetivo, acrescenta, é fazer com que os vizinhos ajudem a “fortalecer o controle das atividades religiosas ilegais no distrito, prevenir qualquer contágio por COVID-19 resultante de reuniões religiosas, mobilizar o público para se engajar na prevenção, repressão de atividades religiosas ilegais, e garantir um ambiente harmonioso e estável para a paisagem religiosa”.
O documento foi divulgado este mês pelo Departamento de Trabalho da Frente Unida do Distrito de Meilisi Daur, segundo o portal The Christian Post.
Sistemas de recompensa semelhantes foram posteriormente introduzidos no distrito de Boshan na cidade de Zibo e na província de Shandong, na cidade de Weihai. Anteriormente, essas recompensas já eram oferecidas em Fujian, Guangxi, Henan, Hebei e Liaoning.
Perseguição explícita
“Embora eles não especifiquem a religião que têm como alvo, é evidente que as igrejas domésticas estão sendo suprimidas”, avaliou a entidade International Christian Concern, dedicada ao monitoramento da perseguição religiosa aos cristãos em todo o mundo.
A Missão Portas Abertas dos EUA, que monitora a perseguição em mais de 60 países, estima que haja cerca de 97 milhões de cristãos na China, uma grande porcentagem dos quais cultuam no que a China considera ser “igrejas ilegais” e igrejas domésticas que são descritas oficialmente como clandestinas por não serem registradas pelo governo.
Na Lista Mundial de Perseguição da entidade, a China surge como o 17° país mais hostil ao cristianismo.
Sob a direção do presidente Xi Jinping, oficiais do Partido Comunista Chinês, ou PCCh, têm imposto controles rígidos sobre a religião, de acordo com um relatório divulgado em março pelo grupo norte-americano China Aid, e impondo alterações nos hinos entoados nos cultos e até em textos bíblicos.
As autoridades na China também estão reprimindo o cristianismo através da remoção de aplicativos da Bíblia de lojas de aplicativos para smartphones e também páginas públicas cristãs da rede social WeChat (a maior do país), à medida que novas medidas administrativas altamente restritivas sobre funcionários religiosos entraram em vigor este ano